O projeto tem como finalidade examinar um conjunto de aproximadamente dez movimentos insurrecionais ameríndios sucedidos em diferentes regiões do continente americano (Nova Biscaia, Lima, La Paz, São Paulo, sertões da costa do Brasil, Tucumã, Oaxaca, Paraguai e Venezuela) durante as três décadas intermediárias do século XVII. Considerando tanto as dinâmicas singulares internas de cada um desses movimentos quanto as conjunturas externas mais amplas que lhes foram comuns, a investigação visa elucidar as conexões entre a circunstância de crise sistêmica sofrida pelas monarquias portuguesa e castelhana no período, o acirramento das relações coloniais de fronteira sob um contexto de intensificação das práticas de exploração laboral das populações nativas em distintos espaços, assim como os diferentes processos de transformação vividos pelos diferentes grupos étnicos de cada localidade. O principal desafio consiste em revelar se e de que modo os diferentes indivíduos e grupos ameríndios insurgentes no período assinalado mobilizaram, para além de bens e práticas culturais de matriz europeia, alianças políticas e guerreiras, narrativas históricas e cosmológicas e/ou padrões tanto interétnicos quanto intraétnicos de sociabilidade oriundos de uma multiplicidade de universos tradicionais em transformação acelerada, bem como interpretaram os dilemas das situações históricas vividas e deliberadamente se organizaram em confederações de maior ou menor porte para atuarem frente a elas. Trata-se, como pano de fundo metodológico, de examinar as dinâmicas ameríndias, coloniais e imperiais de modo simétrico e articulado.