Educação Escolar Indígena na Bahia

Por José Carlos Tupinambá
 
Compreender como cada povo indígena tem produzido seus projetos de educação é de fundamental importância. São muitos os sentidos e significados que os povos indígenas, a exemplo dos povos indígenas da Bahia, têm atribuído à escola, através de suas “políticas culturais”. Esses projetos educacionais, tem sido, sem dúvida, ferramentas de luta e empoderamento, possibilitando a (re)organização política dos movimentos Indígenas, permitindo a reelaboração e afirmação das identidades, reorganização social, afirmação e (re) constituição da cultura, a valorização dos conhecimentos tradicionais, estudos e pesquisa da língua, seus costumes tradicionais, em articulação com a luta pela demarcação dos territórios tradicionais. Romper com pedagogias coloniais referenciadas por uma epistemologia ocidental e que desprezava os conhecimentos tradicionais e os modos de vida de cada povo, tem sido um desafio diário de professores indígenas, organizações e diversos movimentos. Desses importantes movimentos e diálogos, origina-se o conceito de educação escolar indígena como direito, caracterizada pela afirmação das identidades étnicas, pela recuperação das memórias históricas, pela valorização das línguas e conhecimentos dos povos indígenas, pela vital associação entre escola/sociedade/identidade, e em consonância com os projetos societários definidos autonomamente por cada povo indígena.
 
Pensar um currículo a partir dos princípios da interculturalidade, das especificidades e do bilinguismo, em que se divide espaço entre os conhecimentos ditos universais e o conhecimento tradicional, não é tarefa fácil para nenhum povo. Produzir um projeto de educação escolar indígena que valorize as tradições culturais e os modos próprios de aprendizagem tem sido um desafio que avança no cenário brasileiro com a luta e resistência desses povos. A educação como processo é inerente a sociedade. Esse processo, não funciona somente como socialização através de um aparelho formal, de uma instituição especifica, ou de atores especializados. Para que realmente aconteça tem que haver intencionalidade, vontade de avançar, de superar problemas, de priorizar valores, transformar pessoas, grupos e comunidades. Nesse sentido, lideranças e professores indígenas tem exercido seu papel, contribuindo para o fortalecimento da autonomia, dos projetos societários e de continuidade cultural, definido por nossos saberes, valores e práticas socioculturais.