MPI assina Acordo de Cooperação Técnica para finalizar escolas inacabadas de povos tradicionais
O acordo faz parte do Pacto Nacional pela Retomada de Obras da Educação Básica, que entregará 3.783 obras, com investimento de R$ 4,1 bilhões, em 1.697 municípios de todos os estados e regiões do país. O ACT prevê o investimento de R$ 195 milhões para finalizar as obras das escolas indígenas e quilombolas.
“O projeto retoma não apenas as obras, mas a gestão dentro da estrutura das escolas indígenas e quilombolas. Na educação indígena temos muitas preocupações, por isso, é importante falar da gestão e não só da construção de obras porque todo o sistema educacional precisa ser rediscutido e fortalecido”, avaliou a ministra em seu discurso. Participaram da cerimônia a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o ministro da Educação, Camilo Santana, e o diretor da Agência Brasileira de Cooperação, embaixador Ruy Pereira.
Três etapas
Do total de escolas tradicionais, 74 são indígenas e 44 são quilombolas. O projeto será executado pela UNOPS, em parceria inédita com o MEC, em três etapas, sendo a primeira delas o fortalecimento da capacidade institucional das escolas através da Gestão do Plano de Ações Articuladas Aprimorada e Assistência Técnica.
A segunda fase será do diagnóstico social e de infraestrutura escolar indígena ou quilombola, com revisão e adaptação para a finalização das obras e, por fim, a execução material dos projetos. A terceira fase estabelece a sistematização de avaliação contínua do ACT, com avaliação periódica e elaboração de análise de relatórios trimestrais de implementação e alcance dos resultados, corrigindo possíveis falhas de execução que possam impactar os objetivos finais do projeto.
A maior quantidade de escolas indígenas está no estado do Amazonas, 22, seguido pelo Amapá e Mato Grosso, com 11 escolas em cada unidade federativa. Maranhão vem em terceiro lugar, com 10 escolas a serem acabadas; Pará e Roraima têm 8 escolas cada para serem entregues; Mato Grosso do Sul, 2; Bahia e Paraíba, uma unidade por estado.
“O acordo cria a oportunidade de novas discussões, como o reconhecimento da categoria de professores indígenas. A educação básica é responsabilidade dos estados e não há um modelo padrão de contratação dos professores, por exemplo. Precisamos aproveitar essa gestão para avançar na regularização e consolidação da categoria de professores indígenas e o registro das escolas básicas indígenas”, disse Guajajara, que ressaltou a dificuldade para estudantes indígenas cursarem a universidade pela falta de sistematização.
MEC
O início da implementação do projeto, assim como a criação do Comitê de Acompanhamento, com integrantes do MPI, MIR e MEC e demais entes indicados, também se dá no mês no maio.
O ministro da Educação aproveitou a ocasião para mencionar as leis 10.639/2003 e 10.645/2008, que tornam obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena, respectivamente, nas instituições de ensino, em função das desigualdades que existem no país. “As comunidades que mais sofrem do ponto de vista da desigualdade são as tradicionais. Precisamos discutir melhor com o MPI que modelo de escola precisamos definir como padrão, tendo essa ideia da pluralidade em mente”, afirmou.
Camilo Santana também relatou que a média de evasão do Ensino Médio no Brasil é de meio milhão por ano e que, segundo o IBGE, cerca de um terço da população (69 milhões) não concluiu o ensino fundamental, tendo a questão financeira como a principal causa do abandono. Santana apontou para o estado dilapidado em que se encontrava o MEC após a última gestão como fator que piorou a condição do ensino nacional.
A presidente do FNDE, Fernanda Pacobahyba, sublinhou a polarização que o Brasil vive na última década, tendo como principais afetados os povos tradicionais. Ela elencou como exemplo o processo de contratação de uma nova escola, que precisa da anuência do prefeito. “Entretanto, se ele não quiser fazer uma escola indígena o processo simplesmente não anda”, disse.
“Há quem não tem sensibilidade com o tema ou o município é pobre e tem dificuldade de executar as políticas, mas elas precisam chegar aos povos [tradicionais] por uma questão de reconhecimento. A vontade de um não pode atropelar o processo e impedir que se efetive. Por isso, escolhemos um parceiro para pensar essas escolas por dentro”, analisou Fernanda.
A UNOPS foi criada em 1994 para prestar serviços de suporte aos demais programas da ONU e prestar apoio aos governos. Atualmente, a entidade está presente em 85 países de todos os continentes. “A ideia é incrementar o ambiente de gerenciamento dos projetos, aperfeiçoar o FNDE na gestão de infraestrutura e na capacidade de atendimento, justamente para evitar essa quantidade de obras paralisadas inacabadas”, explicou a presidente.