O Ubuntu - Programa de Estudos em Base Africana originou-se a partir de uma caminhada coletiva de trabalho comunitário e serviço ao povo, quando estabelecemos em 2003 o Quilombo Cabula, organização que mantinha um Pré-vestibular Popular, e o Núcleo de Estudantes Negras e Negros Ubuntu/UNEB. Estas duas esferas buscavam se complementar num processo de auto-Reparação para o povo negro no Brasil, estimulando que estudantes negras e negros na Universidade atuassem em suas comunidades de origem ajudando a preparar acadêmica e politicamente moradoras e moradores destas para acessar o chamado Ensino Superior e que estas pessoas, a partir desta preparação, se organizassem em núcleos nos espaços universitários de modo a garantir compromisso comunitário e um percurso acadêmico de excelência e socialmente referenciado, usando as habilidades desenvolvidas em suas graduações no serviço popular, de modo a gerar um círculo virtuoso de transformação das desigualdades sócio-raciais contra as quais o povo negro vem resistindo secularmente. No Pré-vestibular mantido pelo Quilombo Cabula - trabalho desenvolvido de maneira totalmente autônoma e comunitária - além da discussão transversal destas temáticas em todo o currículo e de ações complementares fora do contexto de sala de aula, foi constituída uma disciplina dedicada a discutir a história e cultura Africana e da Diáspora, as relações raciais e a epistemologia a partir da centralidade africana para o entendimento da própria experiência africana, a qual se deu o nome de "EBA - Estudos em Base Africana". Deste modo, o repertório construído coletivamente nos processos do Quilombo Cabula e do Núcleo de Estudantes Negras e Negros Ubuntu/UNEB por uma década é nosso ponto de partida e referencial metodológico para o presente Programa. Dialogamos, assim, com a Pedagogia Interétnica, conforme proposta por Manoel de Almeida Cruz (1989), bem como com a noção de Amefricanidade de Lélia Gonzales (1988), o Quilombismo proposto por Abdias do Nascimento (1980) e o quilombo como instituição africana preconizado por Beatriz Nascimento (2006) e as abordagens desenvolvidas por Diop (2014), Asante (2014) e Ramose (2012) . O princípio de ação colaborativa do Ubuntu - Programa de Estudos em Base Africana, que estimula o trabalho como fonte de aprendizagem e referência, se fundamenta na prática, acúmulo, reflexão e atualização destas experiências - vividas por boa parte das pessoas que hoje compõem a coordenação do Programa, ou como estudantes ou como docentes do Pré-vestibular - com o intuito de alimentar outras formas de produção e difusão de saberes, muitas vezes negadas e/ou expropriadas pela academia como hoje se apresenta, na busca por potencializar uma educação mais humana.